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Morte de universitária reacende debate sobre bullying e assédio moral

Pessoas acompanham exposição em espaço interno com cartazes e mesas organizadas; foto divulgação.

Na tarde silenciosa de 16 de junho, Isabelly Baldin, jovem estudante de medicina da UNILA, decidiu partir. Diagnosticada com autismo, ela não suportou mais o peso invisível que a cercava — o da exclusão, do silêncio institucional e da dor que não cabia mais em si. Sua despedida, marcada por 15 meses de luta contra o assédio e o preconceito, deixou um vazio que ecoa pelos corredores da universidade e pelos corações de quem a conheceu.

Em seus relatos a um colega de turma — Diego Andrade, de 44 anos, também autista, com TDAH, TAG e cadeirante —, Isabelly denunciou perseguições sistemáticas por professores e bullying por parte de colegas.

O episódio ganhou repercussão em 18 de junho — Dia Nacional do Orgulho Autista —, com protestos realizados no campus da UNILA, em Foz do Iguaçu. Estudantes PCDs e a comunidade acadêmica exigiram respostas, responsabilidade institucional e respeito à inclusão. Cartazes com frases como “Chega de capacitismo” e “Ninguém merece sofrer sozinho” simbolizaram a indignação.

Participou do protesto Lee Matievicz Pereira, aluna de Cinema e Audiovisual, que lamentou a repetição da negligência institucional:

“Ela denunciou… ninguém ouviu. E não é só ela… Isabelly morreu porque ela foi levada ao seu limite, por pessoas que decidiram que ela merecia sofrer, apenas por ser diferente.”

Imagens dos relatos trocados em fevereiro de 2024 demonstram a angústia profunda da universitária, enquanto ela e Diego buscavam apoio mútuo diante de dificuldades acadêmicas e discriminatórias.

Eles contaram ter sido intimados pela Polícia Federal em fevereiro por conta das denúncias e, em 18 de junho, Diego procurou a Polícia Civil para exigir que o inquérito sobre a morte de Isabelly considerasse também as queixas anteriores.

A reitoria da UNILA emitiu nota oficial afirmando que ofereceu suporte contínuo à estudante desde seu ingresso, por meio de acompanhamento pedagógico e psicológico, adaptação curricular, planos de apoio individual e bolsas específicas para estudantes com deficiência.

Entretanto, a universidade reprova o que chama de “campanha abusiva” nas redes sociais contra sua imagem. Segundo a nota, denúncias emocionais não devem ser usadas para atacar instituições públicas e trabalhadores.

Um professor da UNILA escreveu um texto denunciando um padrão recorrente de assédio moral — incluindo casos que teriam resultado até em suicídio de professores em 2019 e 2024. Ele alerta que o ambiente institucional ainda enraizado em práticas coercitivas e discriminatórias acaba adoecendo estudantes e servidores:

“O histórico de assédio moral na Universidade é ultrajante… se não for iluminado, continuará destruindo vidas. Isabelly não foi a primeira.”

O docente destaca que, frequentemente, vítimas permanecem caladas para não comprometer sua trajetória acadêmica, enquanto a falta de canais eficazes e punições reforça esse “ciclo invisível de violência”.

A morte de Isabelly, no Dia do Orgulho Autista, reverbera como um grito coletivo por justiça, responsabilização institucional e transformação estrutural. Movimentos estudantis pedem: abertura de investigação formal e responsabilização civil e criminal dos envolvidos; estrutura de acolhimento, canais anônimos e protocolos efetivos para casos de bullying e assédio; educação continuada sobre diversidade, neurotipicidade e inclusão no ambiente universitário.

A UNILA, por sua vez, precisará redobrar esforços e traduzir em ações concretas as políticas públicas de inclusão. A comunidade acadêmica espera que esse episódio, em vez de ser um ponto final, sirva como ponto de virada — para que nenhuma outra vida seja interrompida pela omissão silenciosa diante da dor.

Com informações do site H2FOZ.


1 comentário em “Morte de universitária reacende debate sobre bullying e assédio moral”

  1. Ricardo Evandro Souza Ribeiro

    Quando estudante com paralisia cerebral, pude vivenciar de perto esses desafios, especialmente em minha primeira experiência universitária nos anos 2000. Desde sempre, enfrento um desafio profundo: o descompasso entre a velocidade da minha mente que sempre foi ativa, curiosa e a resposta do meu corpo, que não acompanha esse ritmo com a mesma agilidade.
    Esse descompasso, por si só, já é cansativo. Mas o que tornava tudo ainda mais difícil era a ausência total de suporte. Não havia acessibilidade, não havia acompanhamento pedagógico, não havia preparo da instituição para lidar com alguém como eu. A universidade, que deveria ser um espaço de acolhimento, de troca, de incentivo à diversidade, parecia me dizer, todos os dias: “Seu lugar não é aqui”. Vejo que ainda persistem em nos violentar.

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