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acessibilidade360.com

A banalização do descaso na Alameda Ramiro Santos e Praça Nove  de Novembro

Homem de bicicleta na Alameda Ramiro Santos movimentada ao entardecer.
Foto: Marcelo Bahiano.

Pela terceira vez, o site Acessibilidade 360 volta a denunciar o mesmo problema: a circulação perigosa e imprudente de bicicletas na Alameda Ramiro Santos e na Praça 9 de Novembro, em Vitória da Conquista. E, pela terceira vez, o cenário continua o mesmo. Nada muda. A sensação é de que estamos falando com um muro — um muro feito de omissão, descaso e conivência.
Esses espaços, que deveriam garantir segurança e acessibilidade para todos, têm se tornado verdadeiras armadilhas para pessoas com deficiência, idosos e pedestres em geral. Em vez de encontrar tranquilidade e respeito, enfrentam o risco constante de acidentes e colisões com ciclistas que ignoram a presença de quem caminha com limitações físicas.
A ausência de fiscalização é visível e alarmante. A permissividade do poder público diante desse problema faz com que a negligência se transforme em norma. O desrespeito de parte dos ciclistas, que transitam sem o menor cuidado em áreas que deveriam ser priorizadas para o pedestre, é apenas um reflexo de um modelo de gestão urbana que escolhe não ver.
Essa situação cotidiana pode ser compreendida pela teoria da banalização do mal, da filósofa Hannah Arendt. Arendt nos alerta para o perigo de quando o mal deixa de ser cometido por ódio ou malícia, e passa a ser praticado por pessoas que simplesmente “estão fazendo seu trabalho” ou “seguindo o fluxo”. No contexto urbano, o mal se manifesta na indiferença: no ciclista que não se importa com o outro, no agente público que não toma providência, no cidadão que assiste e não reage. O mal se banaliza quando passa a fazer parte do cotidiano — e, por isso mesmo, deixa de chocar.
A repetição dessa denúncia — já pela terceira vez feita pelo Acessibilidade 360 — torna ainda mais evidente essa banalização. A cidade naturaliza o risco. A vida da pessoa com deficiência é empurrada para a margem, como se sua presença fosse um detalhe. Mas não é.
Vitória da Conquista precisa decidir que cidade quer ser: uma cidade acessível, inclusiva, segura para todos, ou uma cidade onde só quem tem força e pressa consegue circular. É preciso, urgentemente, implantar sinalização adequada, campanhas de educação e fiscalização efetiva. A Alameda Ramiro Santos e a Praça 9 de Novembro não podem seguir sendo espaços de exclusão e perigo para os mais vulneráveis.
A luta por acessibilidade não é favor. É um direito básico. É, acima de tudo, uma luta contra o mal que se esconde na rotina e que, justamente por isso, precisa ser enfrentado com coragem e ação.

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