Uma pessoa cadeirante, com expressão determinada, está no centro. Ao fundo, uma rampa inacessível e uma escada simbolizam barreiras físicas. Foto / divulgação.
No vasto universo da convivência humana, o capacitismo se destaca como um dos preconceitos mais insidiosos, manifestando-se nas interações cotidianas e moldando a percepção que temos sobre pessoas com deficiência. Esse preconceito se reflete de maneira alarmante em Vitória da Conquista, onde barreiras físicas, comunicacionais e atitudinais comprometem a inclusão e a dignidade desse público. Ele não apenas marginaliza, mas também invisibiliza as capacidades e potencialidades que cada indivíduo possui, independentemente de suas limitações. Essas são algumas das mazelas que essa parcela da sociedade enfrenta no município, agravando ainda mais sua exclusão social.
Romeu Sasaki, em suas reflexões, apresenta as seis dimensões da acessibilidade, que nos convidam a uma análise mais aprofundada sobre como transformar a sociedade em um espaço mais inclusivo. Essas dimensões são: a física, a comunicacional, a atitudinal, a organizacional, a técnica e a cultural. Cada uma delas destaca um aspecto importante da acessibilidade, revelando que a inclusão vai muito além de rampas e adaptações físicas.
- Dimensão Física: Em Vitória da Conquista, as calçadas são frequentemente irregulares e estreitas, dificultando a locomoção das pessoas com deficiência. A falta de rampas e sinalizações adequadas em praças e espaços públicos torna o ambiente hostil. Além disso, ciclistas imprudentes frequentemente circulam nessas áreas, colocando em risco a segurança daqueles que já enfrentam desafios em sua locomoção. Terrenos baldios e casas abandonadas também comprometem a integridade física, criando obstáculos perigosos e aumentando o risco de acidentes.
- Dimensão Comunicacional: A ausência de intérpretes de Libras em serviços de saúde e educação é um grande obstáculo. Isso limita o acesso à informação e impede que pessoas surdas se comuniquem efetivamente, resultando em exclusão e desinformação.
- Dimensão Atitudinal: Muitas instituições ainda demonstram uma atitude passiva em relação às necessidades das pessoas com deficiência. A falta de sensibilização e treinamento dos profissionais que atendem a esse público pode levar a discriminações sutis, mas prejudiciais, perpetuando o capacitismo.
- Dimensão Organizacional: As instituições que representam pessoas com deficiência em Vitória da Conquista frequentemente carecem de políticas claras para promover a inclusão. É fundamental que o poder público consulte essas pessoas ao desenvolver políticas públicas e construir equipamentos, pois são elas que realmente necessitam dessas ações e podem indicar com precisão suas reais necessidades.
- Dimensão Técnica: A carência de tecnologias assistivas em ambientes públicos e privados limita a participação plena das pessoas com deficiência. Sem recursos como softwares de leitura ou equipamentos que facilitem a comunicação, muitos ficam excluídos de atividades cotidianas.
- Dimensão Cultural: A representação das pessoas com deficiência na mídia e nas artes em Vitória da Conquista ainda é limitada e, muitas vezes, estereotipada. Além disso, os museus da cidade não têm acessibilidade adequada, com a falta de rampas de acesso, considerando que muitos estão instalados em imóveis ou casarões antigos. A ausência de intérpretes e recursos auditivos também impede que esse público tenha uma experiência completa e inclusiva.
Ao refletirmos sobre essas dimensões, percebemos que o capacitismo não é apenas uma questão de acessibilidade física, mas um fenômeno que permeia todas as esferas da vida. É um chamado à ação, uma oportunidade de repensar nossas práticas e construir uma sociedade que celebre a diversidade em todas as suas formas. Que possamos, assim, não apenas incluir, mas valorizar cada voz, cada história e cada possibilidade que surge quando derrubamos as barreiras do do preconceito.