
No meio da cidade, um jovem de óculos vermelhos caminha de cabeça baixa. Seu nome é Scott Summers, mas o mundo o conhecerá como Ciclope. Ele ainda não domina seus poderes: um simples olhar pode causar destruição. Por isso, esconde os olhos sob lentes especiais, tentando existir sem ser um perigo, sem chamar atenção. Mas não importa o quanto tente se conter — ele sempre será diferente.
Essa poderia ser apenas mais uma história dos X-Men, os mutantes que lutam por um mundo onde possam viver sem medo. Mas, para nós, pessoas com deficiência, essa história não é ficção. Não soltamos raios ópticos nem temos garras de adamantium, mas sabemos bem o que é andar por um mundo que nos enxerga como estranhos, inconvenientes, um problema a ser resolvido.
Nosso dia a dia é um campo de batalha invisível. As barreiras arquitetônicas são como os Sentinelas — robôs gigantes que nos impedem de avançar. A falta de oportunidades nos reduz a personagens secundários em uma sociedade que insiste em nos deixar de fora. Os olhares de pena ou desconforto são como as multidões assustadas dos quadrinhos, torcendo para que desapareçamos de cena.
Mas assim como os X-Men, aprendemos a resistir. Se não podemos voar, encontramos caminhos. Se não temos superforça, cultivamos coragem. Se o mundo nos fecha portas, inventamos novas formas de entrar. Nossa adaptação não é um dom, mas uma necessidade — e, muitas vezes, é o que nos torna extraordinários.
E assim seguimos, driblando os obstáculos, conquistando espaço, transformando o mundo com nossa presença. Não buscamos superpoderes ou reconhecimento heroico — queremos apenas o que todo ser humano merece: respeito, acessibilidade, dignidade. Queremos existir sem que isso seja visto como um ato de bravura.
PPorque, no fim, talvez sejamos mesmo mutantes — não por termos habilidades extraordinárias, mas porque, a cada desafio superado, provamos que podemos ser muito mais do que a sociedade espera.