
No teatro da existência, onde cada indivíduo deveria brilhar com sua singularidade, o Dia do Trabalho para as pessoas com deficiência (PCD) ecoa com um misto de esperança e frustração. A celebração dos direitos trabalhistas esbarra em barreiras teimosas, erguidas não só pela falta de acessibilidade arquitetônica, mas também por atitudes carregadas de preconceito.
É um olhar de desconfiança que paira, uma subestimação silenciosa da capacidade produtiva. Mal sabem aqueles que julgam, que a necessidade aguça o engenho, e as PCDs desenvolvem “atalhos”, maneiras únicas e eficazes de realizar as mesmas tarefas que os ditos “normais”. A perfeição física imposta pelo ideal capitalista cega para a real capacidade que reside em corpos diversos.
A crítica que recai sobre as PCDs que, por vezes, preferem o amparo do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ao invés de se aventurarem em um mercado de trabalho inacessível e preconceituoso, revela a falha de um sistema que não oferece condições dignas de inclusão. Como exigir o abandono de uma segurança mínima em troca de um ambiente hostil e excludente?
A Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91), que deveria ser um guia de inclusão, muitas vezes se torna apenas um custo a ser evitado. Empresas preferem arcar com multas a abraçar a diversidade e o potencial que as PCDs carregam. Ignoram que, nessa parcela da sociedade, reside um contingente de profissionais qualificados, ávidos por oportunidades de mostrar seu valor.
É tempo de ir além da hipocrisia dos discursos vazios e construir pontes reais de inclusão. A data que celebra o trabalho precisa ser um marco para a efetivação dos direitos das pessoas com deficiência, desconstruindo preconceitos, derrubando barreiras e reconhecendo a riqueza da diversidade humana no mercado de trabalho. A verdadeira celebração será no dia em que a capacidade for o único critério de avaliação, e o respeito, a base de todas as relações profissionais.
A ausência de líderes com deficiência também reflete o medo institucional de mudar estruturas. Uma liderança inclusiva exige escuta, acessibilidade e disposição para rever práticas. Isso demanda esforço, mas o retorno é incomparável: ambientes mais diversos, inovadores e humanos.